27 de abril de 2005

o beijo da cereja


Quisera eu ser uma cereja,
nascida do branco e do verde,
aquecida ao sol, refrescada ao vento.
Crescendo encarnada
como os teus lábios.
Virás provar-me
e eu te provarei.



2 comentários:

Anónimo disse...

Cereja, provado, ponho-me à prova. Disponho-me à prova encarnada. Encarno a cereja provada.

linfócittos disse...

Sou como os carvalhos velhos do meu avô - ocos e torcidos - cuja negritude áspera nos oferecia, até à pouco, o tempo orgulhoso da sua juventude viril e ainda lúcida.
À frente, um écrã de TV amplia obscenamente os tiques lânguidos do Sr. Castelo Branco...
À volta, o correrio de gente funcional que violenta a naturalidade do ser no estar, a indiferença ignorante e executiva...
Em mim, enchem-me as vistas as pernas grossas do celibato - pretenso intelectualista - e o regaço farto da socialidade tertúlica à mesa de amigos.
A tua cereja - formosa e escarlate - entristece-me: a única boca rubra e primaveril que me aguarda é a aurora breve das noites que se despedem e o único tempo de conforto a sua nocturnidade visitada.
Não tenho saudades DE, não tenho como ter... porque ESSA cereja eu não conheci.
[Os meus afectos poéticos]