31 de maio de 2017

toco o céu e enraízo-me na terra
o corpo expande e o espírito acalma
respeito o todo com serenidade interior
coração claro e atitude humilde
livre de pensamentos, a mente voa no azul
regressa e pousa em mim
que bem supremo
entrego-me e relaxo

(8 Versos do Zhineng Qi Gong, Pang Ming)

18 de maio de 2017

montanha

há tempo que aqui não estava

sem saudade
volto para a caverna
no alto da montanha

é demasiado lá embaixo
tudo puxa por mim
até ao ponto da loucura
sinto demais
tudo é extremo

exausta e sem recursos
volto

mas a aqui a dor é ainda maior

17 de maio de 2017

nascem universos

coisas explodem em mim
serão a morte de super novas
ou novos universos que nascem?

desintegrada
explodida no vazio

preciso ser contida
num abraço continuo e presente
até ser vida de novo


16 de maio de 2017

eu te céu


Pode-se inventar verbos? Quero inventar um: Eu te céu, assim minhas asas se tornam enormes para te amar sem medidas.


supostamente de Frida Khalo

15 de maio de 2017

ya pihi irakema

Eu fui contaminado pelo teu ser - uma parte de ti vive e cresce em mim.

Tradução de: "ya pihi irakema" - "Eu te amo", índios Yanomami na Amazonia.

14 de maio de 2017

metade de mim



Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade.
Quer as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também

Oswaldo Montenegro

13 de maio de 2017

árvore sem floresta


que ramos agrestes
tem esta árvore
que corta quem chega perto

que segredos ou força
tem que impede
criar uma floresta

um veneno frio
espalha-se no ar
invisível

mata a árvore
aos poucos



in "árvores de mim"

12 de maio de 2017

sem jogo

aqui estou
despida de jogo
toda a verdade

e não chega
nunca chega
ou é demais

11 de maio de 2017

voltam as águas

voltam as águas
uma maré cheia, larga
imóvel sobre as areias da praia

que faço agora?
imóvel a maré, a areia e eu
olhando tudo e afogando-me
de novo?

a perda. outra vez.